quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Marco Simoncelli

Não dá para deixar de comentar o acidente do Simoncelli, em que o simpático italiano lamentavelmente perdeu a vida aos 24 anos de idade.

Mas, antes, quero registrar a opinião do Giacomo Agostini (08 vezes campeão mundial) sobre o acidente, que lí no Facebook. Segundo ele, não foi a moto que caiu, foi o piloto - quando uma moto escorrega e cai, ela vai para fora da curva, e não para dentro, como aconteceu. O Marco aparentemente caiu de cima da moto para dentro da curva, e continuou tentando se segurar em cima dela, fazendo com que a moto viesse para dentro da curva e fosse atingida pelas motos que vinham atrás.

Resta saber porque ele caiu, e porque caiu para dentro da curva (contra a força centrífuga, que empurrava ele e a moto para fora da curva). Provavelmente nunca saberemos ao certo. Mas uma possibilidade assustadora é a seguinte.

Jamais entendi essa história de tirar o pé do pedal interno imediatamente antes de tomar uma curva, introduzida pelo Rossi há mais de um ano e hoje adotada por vários pilotos da MotoGP - inclusive o Simoncelli. A única razão que consigo imaginar para adotar esta esquisita "técnica" é transferir mais peso para o pedal externo em relação à curva. Sabidamente, a transferência de mais peso para o pedal externo contribui muito para estabilizar a moto durante uma curva, e, por não ser natural e intuitiva, requer muita atenção, treino e prática para ser executada. Tirando o pé do pedal interno, o piloto só consegue se movimentar em cima da moto usando o pedal externo como apoio, automaticamente transferindo mais peso para o mesmo.

Ao mesmo tempo, acho muito difícil acreditar que pilotos da MotoGP precisem recorrer a este perigoso artifício para conseguir transferir mais peso para o pedal externo. Digo perigoso porque pode um dia acontecer do pé não voltar exatamente para o pedal, ou de escorregar do pedal durante a manobra. O Valentino deve provavelmente ter começado esta brincadeira para mexer com a cabeça dos demais competidores.

Isto poderia explicar o que aconteceu com o Marco. Se seu pé escapou do pedal interno, é possível que esta tenha sido a razão de ele cair para dentro da curva. E se seu pé ficou preso entre o pedal e o asfalto, pior ainda. Não só seu peso aumentou a inclinação da moto, fechando a curva no processo, mas também o atrito do seu pé/pedal com o asfalto funcionou como pivô, ou âncora, girando a moto sobre este ponto.

Como disse, provavelmente nunca saberemos ao certo. Todavia, se na próxima corrida, alguns pilotos começarem a parar de empregar essa "técnica", talvez tenha sido exatamente isso que aconteceu. Lamentavelmente.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Atenção do Motociclista

Um aspecto freqüentemente esquecido, e muito importante, é que o principal componente do conjunto moto/piloto não é o motor, o freio, ou a suspensão da moto.

É o cérebro do motociclista. E, em especial, sua mente, a parte consciente do órgão mais complexo e sofisticado já criado pela natureza, onde reside nossa capacidade de pensar e de prestar atenção.

O objeto da atenção de um piloto é o elemento-chave que determinará seu desempenho como motociclista. Infelizmente, nossa atenção é finita: cada indivíduo tem certa quantidade para usar. Temos certa quantidade de atenção assim como temos certa quantidade de dinheiro. Alguns têm mais, outros têm menos.

Imagine que você tem 100 unidades de atenção para usar. Se empregar 50 unidades em um só aspecto de pilotar uma moto, restarão 50 unidades para todos os demais aspectos. Um motociclista inexperiente vai, provavelmente, gastar 90 unidades só para operar a moto – soltar a embreagem, acelerar, trocar as marchas, fazer uma curva, e assim por diante - sobrando apenas 10 unidades para a rua, pedestres, tráfego de outros veículos etc.

Alguns motociclistas acham que, com tempo e experiência, certas ações – como trocar as marchas, por exemplo – tornam-se automáticas. Não é bem assim. Eles simplesmente estão empregando menos atenção para executá-las. Isto conduz à boa pilotagem. Quanto maior o número de ações que o piloto conseguir reduzir ao custo de poucas unidades de atenção, mais atenção sobrará para dedicar a coisas mais importantes. E isso só se consegue através de estudo, treino e experiência.

O que não entendemos sempre requer mais atenção. Toda vez que surge um fato ou uma situação que não compreendemos, fixamos nossa atenção nesse fato ou situação. Faz parte de um processo mental inconsciente, que nos ajuda a entender o mundo a nossa volta. Uma situação cujo desfecho não conseguimos prever nos assusta, e o medo ou pânico custam 99 unidades de atenção.

É preciso entender o comportamento de uma moto em movimento, e quais as técnicas, e cuidados, que levam a uma pilotagem segura e de qualidade. O princípio geral com relação à melhoria de pilotagem deve ser:

Simplificar as ações e operações de pilotar uma moto, definindo o que é básico, e dominá-las para que usem o mínimo possível de atenção.

Dominar as ações e operações significa entendê-las (como funcionam e porquê) e, através de treino e prática, torná-las tão familiares que jamais haverá dúvidas quanto ao que fazer em determinada situação, e quais os resultados que serão obtidos, usando só uma pequena parcela de nossa atenção.

Poucas coisas são tão divertidas e emocionantes como andar de moto. A sensação de liberdade, a proximidade e intimidade com o ambiente, a aceleração e o prazer de explorar e descobrir nossos limites, e os limites da máquina que estamos pilotando.

Basta aprender a fazer isso direito!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Countersteering

Feliz e Próspero 2011!

Este é um período de importantes resoluções e decisões. Além das costumeiras resoluções de ano novo (fumar menos, beber menos, fazer mais exercícios), um amigo me enviou uma muito boa, atribuída ao Luís Fernando Veríssimo - "Em 2011 vou fazer tudo para chegar a 2012"! Parece piada, mas hoje em dia pode ser uma ótima resolução.

Na edição de Dezembro da revista Duas Rodas, publiquei um anúncio referente ao livro Motociclismo Avançado, que parece estar chamando bastante atenção. Curiosamente, as publicações especializadas brasileiras não têm noticiado a publicação do livro, apesar dos meus inúmeros esforços enviando para as editoras "releases" e exemplares impressos para conhecimento e divulgação.

Todavia, tenho notado que, pela primeira vez, as revistas brasileiras de motociclismo têm mencionado assuntos (tratados no livro) que nunca havia visto antes nas mesmas. Entre eles, e talvez o mais importante, está a referência à técnica do Countersteering (ou Contraesterço).

Dirigir uma motocicleta, conseguir que ela mude de direção segundo nossa vontade e que siga na direção que desejamos, é uma das duas manobras mais importantes para se pilotar com segurança - a outra é conseguir que a moto pare sob o nosso comando. Contudo, pouco ou nada se fala, ou se explica, sobre o countersteering em revistas nacionais. O que não é o caso das revistas estrangeiras, que, em toda oportunidade, mencionam e explicam o funcionamento desta importante técnica de pilotagem de motos.

Para conseguir que uma moto faça uma curva, acima de 25/30 km por hora, basta incliná-la na direção que se quer seguir - a moto fará a curva sozinha. E a maneira mais fácil, rápida e precisa de inclinar uma moto é fazendo pressão no guidão na direção oposta à direção que se quer seguir!

Funciona ao contrário. Vire o guidão levemente para a esquerda e a moto se inclinará para a direita, iniciando uma curva para a direita; aumente a pressão para virar o guidão à esquerda, e a inclinação da moto se acentuará, fechando o raio da curva para a direita. Em uma curva aberta e longa, percorrida em velocidade e sob aceleração, mantenha a pressão constante no guidão no sentido contrário da curva e você evitará que a moto tente se levantar, como normalmente faz por ação da força centrífuga, abrindo o raio que percorre no processo.

É fácil imaginar a quantidade de acidentes que resultam do desconhecimento deste fato básico - a partir de certa velocidade, se o motociclista virar o guidão para um lado, a moto iniciará uma curva para o lado contrário.

A explicação completa quanto ao funcionamento da técnica do countersteering, e os cuidados e exercícios para testá-la e treiná-la são apresentados em detalhe no livro Motociclismo Avançado, que naturalmente recomendo que todos os possíveis interessados leiam.